quinta-feira, 4 de março de 2010

Joanete

O joanete, saliência na parte interna do hálux (dedão do pé) trata-se na realidade de uma deformidade chamada "hálux valgus" ou "hálux valgo", em que há uma combinação de alterações no pé levando a deformidade e dor ao caminhar.
O joanete é o apelido daquela saliência referida acima , e não é uma formação óssea anormal como muitos pensam, e sim um desvio, para dentro, do osso 1° metatarso, ficando com sua cabeça saliente na parte interna do pé.
O hálux valgo compreende um conjunto de alterações anatômicas, além do desvio interno do 1° metatarso. São elas:
-desvio da ponta do hálux (dedão) em direção do 2° dedo, ou dedo vizinho, às vezes indo para baixo ou para cime dele;
-dedos do pé em garra, pela descompensação produzida no apoio;
-calosidades sob o antepé
-pé plano adquirido (pé achatado para dentro).
A causa para o surgimento do hálux valgo ainda não está bem clara, mas sabe-se que há forte influência genética e do tipo de calçado usado (principalmente salto alto e bico estreito). Aparece mais em mulheres, em qualquer idade, e o sintoma predominante é a dor ao caminhar, muitas vezes pelo atrito do joanete no calçado, produzindo uma bursite no 1° metatarso (há uma pequena bolsa na saliência do 1° metatarso que inflama quando irritada pelo calçado).
O diagnóstico é feito pelo exame do pé auxiliado por radiografias do pé em que o ortopedista afere os ângulos entre os ossos do antepé para indicar o melhor tratamento, que pode ser conservador ou cirúrgico.
O tratamento conservador é indicado nos casos leves, com pouca deformidade, orientando a pessoa a evitar calçado de salto alto e ponta estreita, calçados com costuras que entrem em contato com o joanete, proteções de silicone para o joanete, até separadores de dedos de silicone, encontrados em lojas de produtos ortopédicos. Porém o tratamento conservador não resolve o problema base, apenas minimiza a dor. Nos casos de resultado resistente a este tratamento, indica-se a cirurgia.
O tratamento cirúrgico do hálux valgo é cercado de dúvidas pela população em geral, devido a inúmeros casos (antigos) em que a deformidade voltava após a cirurgia. Ocorre que, na história do hálux valgo existem descritas mais de 100 técnicas diferentes, cada ortopedista usava a que simpatizava mais, com resultados variáveis. Hoje sabemos que existem 5 a 10 técnicas que são estatisticamente eficazes, com indicação específica, variando com os ângulos encontrados no Rx, na presença de artrose (desgaste) na articulação do 1° dedo, com a idade da pessoa, com o grau de deformidade. Os resultados hoje são muito bons, raras recidivas e bom alívio da dor e da deformidade na maioria absoluta das operações.
Mas saliento: Não opere por motivo estético somente. Caso não tenha dor, seu pé está adaptado a deformidade, e uma correção meramente estética poderá resultar em um pé doloroso na marcha.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Dor no calcanhar

A dor no calcanhar, mais especificamente sob o calcanhar, é uma fonte de queixa muito frequente no consultório do ortopedista. Aqui na região sul, onde o veraneio dura de dezembro a fevereiro e as pessoas realizam caminhadas à beira do mar descalças, o mês de março reserva ao ortopedista inúmeras consultas relatando este tipo de dor.
Na maior parte das vezes a causa está na inflamação de um tecido existente na planta do pé, originado sob o osso calcâneo (osso do calcanhar) indo até a base dos dedos (dos ossos metatarsos), chamado de "fáscia plantar", cuja inflamação chama-se de "fascite plantar", popularmente conhecida por "esporão do calcâneo", uma vez que em muitas pessoas com fascite plantar aparece na radiografia a imagem de um esporão sob o calcanhar.
Chamar este problema ortopédico de esporão de calcâneo é um erro, pois sabemos que o esporão sob o osso calcâneo aparece também em radiografias de pessoas assintomáticas, portanto o esporão não é a causa da dor, e sim a inflamação da fáscia plantar.
A fascite plantar ocorre mais em pessoas que ficam longos períodos em pé ou que caminham muito, em pessoas que usam calçados baixos e/ou desconfortáveis, também em pessoas com sobrepeso. A dor é caracteristicamente maior nos primeiros passos da manhã, sob o calcanhar, diminuindo um pouco ao longo do dia, vindo a aumentar de intensidade quando a pessoa fica em pé ou caminha muito, como descrito há pouco.
Seu diagnóstico é clínico, embora o Rx seja um exame rotineiro nesses casos para descartarmos outros tipos de doenças que possam causar dor no calcanhar (doenças bem mais raras).
O tratamento que costumo indicar é o uso de medicação anti-inflamatória por curto período ou na exacerbação da dor, imersão do calcanhar em água quente à noite, uso de calçado mais confortável e mais elevado no calcanhar, além do uso dentro do calçado de uma palmilha de silicone própria para este tipo de afecção, encontrada em lojas de produtos ortopédicos. Com isso, em 90 por cento dos casos há alívio dos sintomas. A fisioterapia e a infiltração de medicação na fáscia plantar são outros recursos de tratamento. A cirurgia raramente é indicada e cá entre nós, não tenho visto bons resultados na minha experiência de consultório.